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Tarifa sobre Brasil valoriza boi em países concorrentes
No mercado paraguaio, por exemplo, valor do gado subiu mais de 10%
À medida em que a carne bovina do Brasil perde competitividade e espaço no mercado americano, com a aplicação da sobretaxa de 50% do governo Donald Trump, países concorrentes no fornecimento do produto já registram altas nos preços do boi.
O Paraguai é o destaque na América do Sul. Dados compilados pela consultoria Agrifatto mostram que, desde o anúncio de Trump, de que produtos brasileiros teriam uma sobretaxa de 50%, em 9 de julho, até o último dia 5 de agosto, o valor do gado paraguaio subiu 10,7%.
Na Austrália, vista pelo mercado como a maior beneficiária da lacuna que será deixada pela carne brasileira nos EUA, o boi gordo subiu 4,3% desde 9 de julho. A valorização ocorreu a despeito de uma taxação imposta pela China ao produto australiano nesse período. Para os cálculos, a consultoria converteu os valores nas moedas locais para dólares americanos.
“Em geral, o Brasil perdeu valor e os demais exportadores de carne ganharam”, afirma Lygia Pimentel, diretora da Agrifatto.
Segundo a Scot Consultoria, o preço do boi australiano está no maior patamar em 12 meses, acima de US$ 70 por arroba. “Desde abril, quando a primeira leva de tarifas foi imposta pelos Estados Unidos contra diversos países, o valor do gado já começou a subir na Austrália”, observa o analista da Scot Felipe Fabbri.
De acordo com o analista, a alta dos preços do na Austrália está fundamentada na maior demanda internacional. E as restrições ao fornecimento brasileiro de carne bovina, em função do tarifaço, contribuíram para a valorização.
Durante o primeiro semestre de 2025, o Brasil dobrou as exportações de carne bovina para os Estados Unidos, segundo destino do produto até então e atrás da China. Os embarques saíram de 85,36 mil toneladas entre janeiro e junho de 2024 para 181,5 mil toneladas no mesmo período deste ano.
Entretanto, desde abril, o ritmo das vendas aos americanos veio caindo, e saiu de 47,8 mil toneladas para 18,23 mil toneladas em junho, conforme dados da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec).
O movimento ocorreu porque, em abril, Trump anunciou uma taxa de 10% sobre os produtos brasileiros. Essa tarifa se somou ao imposto de 26,4% já existente para a carne bovina, o que começou a inviabilizar o embarque de alguns frigoríficos. Agora, que o imposto chega a 76,4%, as exportações aos EUA ficaram inviáveis.
Fabbri afirma que as tarifas sobre o Brasil — que eleva o custo de importação da carne bovina — fizeram os compradores americanos “correrem” para adquirir o produto em outros países fornecedores, o que sustentou a alta.
Neste momento, segundo analistas, a Austrália tem uma oferta de gado bovino relativamente confortável, assim como o Brasil, depois problemas no rebanho em anos anteriores em decorrência de intempéries e abate de fêmeas.
Ainda assim, não há como os australianos suprirem toda a demanda americana, então a Argentina pode ser o país da América do Sul mais beneficiado no atual cenário em que o Brasil perde competitividade, de acordo com os analistas. Também há espaço para Paraguai e Uruguai.
“A Argentina pode acabar entrando em uma fatia maior de procura pelos americanos. [Javier] Milei e Trump estão conversando mais ativamente para a ampliação de cotas para exportação de carne argentina aos Estados Unidos”, observa Fabbri.
A cota atual de carne bovina da Argentina para os EUA é de 20 mil toneladas e a expectativa é que chegue a 80 mil.
Em outra frente, Milei negocia uma isenção tarifária para 80% dos produtos argentinos exportados aos americanos, dentre eles a carne bovina, conforme informação da Bolsa de Comércio de Rosário. “Em suma, se houver progresso na área de tarifas, poderá haver redirecionamentos significativos nos fluxos comerciais, nos quais a Argentina se beneficiaria claramente”, afirma a Bolsa em relatório.
O governo argentino ainda reduziu as tarifas de exportação (as retenciones) de carnes bovinas e avícolas de 6,75% para 5%.
Segundo Lygia Pimentel, da Agrifatto, a “economia” anual para o setor da carne bovina na Argentina, devido à redução de 1,75% no imposto de exportação, não chegará a US$ 24 milhões, mas pode funcionar como um incentivo aos pecuaristas locais.
Foto: José Florentino/Globo Rural
