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Golpe faz criador deixar de receber por venda de 542 novilhas: ‘Não leva apenas o gado, leva uma vida de trabalho’
Polícia registra 72 ocorrências em que pecuaristas gaúchos deixaram de receber pela comercialização de animais; no município de Formigueiro, prejuízo chega a R$ 10 milhões
A Polícia Civil do Rio Grande do Sul trabalha para esclarecer um tipo de golpe aplicado na compra de gado que já representa um prejuízo milionário a pecuaristas do estado. Nada menos que 72 ocorrências foram registradas na Delegacia de Polícia Especializada na Repressão aos Crimes Rurais e de Abigeato. Apenas no município de Formigueiro, na região central do estado, as vítimas foram lesadas em mais de R$ 10 milhões.
Dois suspeitos de participação nos golpes estão presos. Um deles, um jovem de 26 anos cujo nome não pode ser revelado até o fim das investigações, fez negócios legalmente com pecuaristas por meses, até anos. Para então aplicar o golpe, retirando grande volume de animais das propriedades e deixando de fazer o pagamento pela compra.
Vagner Grigoletto, criador de gado em Formigueiro, ficou sem receber o valor referente à venda de 542 novilhas da raça braford. Ele conta que mantinha uma relação de amizade com o jovem que hoje está preso, o qual já vinha adquirindo gado do pecuarista por um ano e meio. “Não tinha queixa dele. Sempre me pagou certinho. Mas, nesses últimos 30 dias, ele deixou para juntar todo o meu gado, 542 novilhas braford. Acreditei nele e dei os 30 dias para poder efetuar o pagamento. Não pagou e nem aos outros pecuaristas da região”.
Prejuízo e indignação
Grigoletto relata um sentimento de muita indignação com o golpe sofrido. “Não leva simplesmente o gado. Leva toda a vida de sacrifício, de trabalho. Uma vida em que a gente se priva de ficar com a família para estar cuidando do que é nosso. Queremos que a justiça seja feita, que ele pague ou pelo menos que o nosso gado retorne para nossas propriedades”.
Outro pecuarista de Formigueiro, que não quis se identificar, relata prejuízo de mais de R$ 1 milhão. O modo de operação foi o mesmo aplicado a Grigoletto: os negócios vinham sendo feitos com o mesmo rapaz por cerca de dois anos. Inicialmente, os pagamentos eram feitos à vista; depois, com um prazo para a transferência do dinheiro, que sempre foi honrada. Até que os cheques começaram a voltar, e a venda de cerca de 260 animais ficou sem pagamento. “Para nós, isso tira o chão. É toda uma vida que você trabalha. Isso não se faz para ninguém”, lamenta o pecuarista.
Já Gorete Argenta Garcia conta que seu marido, Eloi Garcia, falecido recentemente, ajudou o acusado a iniciar as negociações com pecuaristas assim que chegou à região de Formigueiro. “Emprestou mangueira, balança e também arreio”. O casal registrou na delegacia local uma ocorrência por conta de cheques sem fundo relativos à compra de animais, num valor de R$ 130 mil. “A família pede justiça. Meu marido acabou não aguentando e falecendo no dia 21 de junho”.
Maior golpe contra o agro do RS
O delegado da polícia especializada em crimes rurais de Bagé, André de Matos Mendes, acredita que o golpe é o maior já registrado contra o agronegócio no Rio Grande do Sul, lesando um grande número de produtores rurais. Além da prisão dos dois suspeitos, ele conta que foram cumpridas medidas judiciais, com o bloqueio de bens de alguns envolvidos.
“As investigações ainda tendem a avançar. Esperamos conseguir encontrar patrimônio e garantir que as vítimas tenham ressarcimento, senão total, pelo menos em parte no futuro, depois da ação penal”, informa Mendes.
A Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul) recomenda cautela aos pecuaristas, antes de concretizar a venda dos animais. O diretor da entidade, Fábio Rodrigues, afirma que é preciso ter cuidado principalmente quando os valores negociados estão fora dos parâmetros do mercado. “Devemos procurar as referências dos operadores que estão buscando esse tipo de negócio e tentar sempre nos precaver de qualquer imprevisto que possa vir a acontecer”.