O dólar fechou em alta nesta terça-feira (27), mesmo com leilão extra realizado pelo Banco Central após a moeda atingir R$ 4,19. A disparada aconteceu justamente depois que o presidente da autoridade monetária, Roberto Campos Neto, disse que a recente desvalorização da taxa de câmbio está dentro do padrão normal. O mercado também continua acompanhando os desdobramentos da guerra comercial.
A moeda norte-americana encerrou o dia em alta de 0,50%, vendida a R$ 4,1575. Na máxima do pregão, chegou a ser vendida a R$ 4,1923, a maior cotação do ano durante os negócios.
Mas o câmbio perdeu força após o BC anunciar leilão adicional de dólares à vista, com taxa de corte de R$ 4,1250. O volume de dólares ofertado não foi informado. Na mínima do dia, a cotação foi a R$ 4,1211. Veja mais cotações.
O principal índice de ações da bolsa brasileira fechou em alta de 0,88%, a 97.276 pontos.
A sinalização do BC de que poderia não intervir para conter a depreciação da moeda brasileira (algo que não se confirmou com a realização do leilão extra, na sequência) levou a valorização do dólar sobre o real a um atingir um pico nesta terça-feira. Mas a escalada gradual da cotação nos últimos dias tem sido motivada por:
- novos episódios da guerra comercial entre China e EUA;
- turbulências políticas no Brasil;
- ruídos na relação internacional do país por conta do desmatamento na Amazônia.
No pregão da véspera, o dólar fechou em alta de 0,29%, a R$ 4,1369.
Leilão extra não evita avanço
A realização de um leilão extra de venda de dólares à vista, sem divulgação prévia, foi entendida pelos agentes como uma reação do Banco Central à proximidade da moeda dos EUA do patamar de R$ 4,20, rondando nova máxima histórica.
“O Banco Central está usando reserva, está jogando dólares no mercado e está trazendo os players para jogar junto”, disse ao G1 o economista-chefe da Infinity Asset, Jason Vieira.
Mais cedo, o BC já havia vendido US$ 550 milhões no mercado à vista, mas a operação estava associada a uma venda de mesmo montante em swaps cambiais reversos. Essa oferta começou na última quarta-feira (21) e será feita diariamente até a próxima quinta-feira (29).
Procurado pelo G1, o Banco Central não informou até o momento o valor de dólares vendidos no leilão extra. Segundo o BC, a última operação deste tipo foi feita em 3 de fevereiro de 2019. Na prática, o leilão realizado nesta tarde representa uma “queima de reservas”.
“O BC quis dar um sinal de que (o dólar) em R$ 4,20 incomoda”, disse à Reuters Dan Kawa, sócio da TAG Investimentos. Para ele, o não anúncio do tamanho da operação serve para “não dar previsibilidade” ao mercado, o que o profissional classifica como “prudente”. “O mercado deveria ficar na dúvida dos próximos passos da Selic, por mais que ele negue que exista relação mecânica”, completou.
Pela manhã, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, disse em audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado Federal, que apesar da “desvalorização um pouquinho acima” dos últimos dias, o dólar “está bem dentro do padrão normal”. A fala foi entendida por analistas como um sinal de que o BC poderia não atuar de forma adicional para conter a depreciação do real, o que acabou levando a moeda a atingir R$ 4,19.