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Café pode ficar mais barato no Brasil por causa do tarifaço?
Preço deve continuar em desaceleração por conta de uma colheita melhor, e não em virtude do tarifaço.
O café está entre os alimentos alvos da tarifa de 50% imposta por Donald Trump sobre as vendas brasileiras para os Estados Unidos. A medida entra em vigor no dia 6 de agosto.
Indiretamente, porém, pode existir um impacto no supermercado. Se os compradores americanos não quiserem pagar a mais pelos alimentos brasileiros, uma queda nas vendas para os EUA poderia afetar os produtores. Por consequência, o tarifaço reforçaria tendências já em andamento nos valores do Brasil.
Economistas e especialistas ouvidos pelo g1 apontam que o preço do café não deve ser afetado em um primeiro momento. O setor acredita que as vendas aos EUA não devem ser paralisadas e, assim, não vai ter uma oferta maior de café no Brasil.
Contudo, os preços devem continuar na tendência de queda, que iniciou em julho, devido à expectativa de um aumento da safra.
Preço cai, mas não por causa dos EUA
O setor cafeeiro acredita que o tarifaço não deve impactar os preços do café no Brasil, ao menos inicialmente.
A tendência é que os exportadores do Brasil e os importadores dos EUA cheguem a um acordo para que o comércio não seja interrompido agora, diz Celírio Inácio, diretor executivo da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic).
Se as exportações seguirem normalmente, o café não precisará ser redirecionado para o mercado interno, e os preços no Brasil devem continuar em tendência de queda.
Em julho, o preço do café diminuiu 0,36%, na primeira queda em um ano e meio, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15).
A baixa dos preços está sendo puxada pela expectativa de aumento da safra do café do tipo robusta, que não é o tipo mais exportado para os EUA. A preferência dos americanos é pelo arábica.
“Nesse momento, o importador (dos EUA) ainda tem em estoque o café que não foi taxado, então, ele pode praticar um preço médio para o consumidor norte-americano”, afirma Inácio.
Trump determinou que os produtos que embarcarem até o dia 6 de agosto não serão submetidos à tarifa de 50%, mesmo que cheguem aos EUA depois do prazo.
Os especialistas lembram, também, que a colheita do café acontece só uma vez por ano, o que atrasa qualquer impacto no preço para o consumidor.
O cenário para médio e longo prazo é incerto, inclusive por causa da dúvida sobre a duração do tarifaço. “Não sabemos se as tarifas vêm para ficar, se elas vão durar seis meses, um ano ou mais”, afirma Maximiliano.
Os EUA são os maiores importadores do café brasileiro, comprando cerca de 16% do produto exportado pelo país. Ao mesmo tempo, o Brasil é o principal fornecedor do café para os EUA e detém cerca de um terço do mercado norte-americano. Se a tarifa durar muito tempo, especialistas acreditam que o mercado deve mudar: os EUA buscariam outros fornecedores e o Brasil venderia para outros países.
“Seria uma nova realidade que o mercado teria que precificar. É incalculável”, afirma Marcos Matos, diretor-geral do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé).
Ainda assim, Matos diz que um tarifaço duradouro causaria oscilação de preços no Brasil, “tanto para cima quanto para baixo”, por conta dessas novas condições de exportação.
Já Celírio Inácio, da Abic, alerta que, nesse cenário, a produção brasileira pode acabar sendo reduzida daqui a alguns anos, o que poderia elevar os preços.
“Se o agricultor não tiver remuneração suficiente para fazer novos investimentos, pode haver algum impacto na produção futura”, diz ele.
Para Fernando Maximiliano, no entanto, a manutenção das tarifas a médio prazo tende a reduzir os preços no Brasil. “Com a dificuldade de vender para os americanos, haveria maior disponibilidade de café. Esse excedente poderia ficar no Brasil, baixando o preço por aqui”, conclui.
Foto: Marcelo Mutuva
