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Com muito investimento, produtor chinês de suínos constrói maior granja do mundo
Complexo de granjas surge como resposta do país à crise de peste suína africana, que dizimou o rebanho de porcos do país que é maior consumidor mundial da carne.
Atrás dos muros de um enorme complexo industrial na China, o grande produtor de suínos Muyuan Foods está tentando criar mais porcos em um único local do que qualquer empresa no mundo – um investimento arriscado com a mortal peste suína africana persistindo.
A nova unidade, que começou a ser construída em março e começou a operar no primeiro de seus 21 prédios em setembro, resume o ritmo alucinante no qual enormes granjas industrializadas estão substituindo pequenas fazendas tradicionais, muitas das quais foram destruídas pelo pior surto de doença na história recente.
A mudança, em curso há anos, acelerou drasticamente, alimentada por enormes lucros de produtores corporativos desde que a peste suína africana devastou o rebanho do país e fez os preços do porco dispararem para o dobro do recorde anterior.
As fazendas corporativas não foram poupadas pela epidemia, mas com o aumento dos preços elas recuperaram rapidamente suas perdas. Os lucros de Muyuan cresceram 1.413% nos primeiros nove meses de 2020 para 21 bilhões de iuanes (3,21 bilhões de dólares).
“Alcançamos um período muito favorável para o desenvolvimento. Os preços dos suínos estão muito altos, nossos lucros são realmente bons e o fluxo de caixa é muito amplo”, disse à Reuters Qin Jun, vice-gerente geral de Muyuan, na sede da empresa na cidade de Nanyang, no centro China.
Na corrida para ganhar participação, empresas como a Muyuan estão projetando fazendas automatizadas de maior densidade, apostando que podem evitar doenças e aumentar a eficiência para satisfazer o enorme apetite do país por carne suína.
A nova mega granja de Muyuan perto de Nanyang, que eventualmente abrigará 84 mil porcas e suas criações, é de longe a maior do mundo, cerca de dez vezes o tamanho de um criadouro típico dos Estados Unidos. Tem como objetivo produzir cerca de 2,1 milhões de suínos por ano.
Se funcionar como planejado – e outros produtores seguirem o exemplo –, o maior consumidor de carne suína do mundo poderá reduzir as compras no mercado global, prejudicando o comércio de carne em expansão que tem apoiado os produtores de todo o mundo.
Maior é melhor
Com pilhas de dinheiro, Muyuan e outros estão crescendo mais rápido, com o objetivo de abocanhar participação de mercado enquanto o setor se reconstrói.
Muyuan vai gastar cerca de 40 bilhões de iuanes este ano em novas fazendas de suínos, disse Qin, cerca de oito vezes o que gastou há dois anos, e quase o dobro do capital que a montadora Tesla projeta para gastar.
Enquanto isso, os pequenos agricultores estão lutando para se reerguer em meio a novos e caros requisitos de prevenção de doenças.
O rebanho de suínos da China, o maior do mundo, encolheu cerca de metade em 2019, causando um déficit de 11 milhões de toneladas de suínos que excedeu em muito as ofertas globais.
Desde então, as importações de todas as proteínas aumentaram, enviando os preços desde o Brasil até a Dinamarca para níveis recordes.
“Tem um elemento experimental”, disse Qin sobre a fazenda de 3 bilhões de iuanes.
“Empregaremos menos pessoas e usaremos mais tecnologia”, disse ele, apontando para sistemas de alimentação “inteligentes”, robôs de limpeza de esterco e câmeras infravermelhas para detectar quando os porcos têm febre.
Prédios altos são cada vez mais populares na China em meio à escassez de terrenos adequados.
Embora os produtores corporativos tenham uma vantagem na obtenção de acordos de terras com os governos locais graças à sua influência e promessas de criar empregos também construindo abatedouros, Muyuan recentemente atraiu polêmica por planejar 55 fazendas de suínos em 1.000 hectares de terras agrícolas de Henan.
Qin diz que o problema foi resolvido e que a empresa já arrendou terras para produzir 80 milhões de porcos.
A mega fazenda pode abrigar cinco vezes mais porcos do que uma fazenda normal na mesma área. Sua densidade acarreta um grande risco, no entanto, com doenças como o vírus da peste suína ainda circulando na China e nenhuma vacina ou cura disponível.
Muyuan diz que reformulou seu processo de produção desde o surto de peste suína. O grão para ração é esterilizado antes de ser canalizado para a fábrica de rações, evitando a possível contaminação da fazenda por caminhões.
Dentro do alojamento dos suínos, o ar é filtrado e câmeras de imagem térmica estão sendo testadas para verificar a temperatura corporal dos porcos.
Para proteger a biossegurança da fazenda, a Reuters não teve acesso à granja.
As novas medidas são impressionantes, desde que sejam administradas de maneira adequada, disse Michael Ellerman, vice-gerente geral da Aspire, uma consultoria de criação de suínos com sede em Suzhou.